O cara tem absoluta certeza de que está certo. Ou tenta se convencer disso todo santo dia. Deve gastar alguns minutos diante do espelho, repetindo sua verdade como um mantra, tentando se persuadir de que não há como estar equivocado. É tudo um complô, uma conspiração: ninguém vai derrubá-lo de sua convicção. Vai lutar até o fim! A causa vencerá. Coisa de doido.
Tem muita gente como ele por aí. Dono da verdade, para quem argumentos são desprezíveis se não confirmarem suas crenças. Palavras ao vento em uma guerra entre surdos. Bom senso, ponderação, para quê? De que vale relativizar diante da fé de que o outro lado está, invariavelmente, errado, mal intencionado, disposto a derrubar, passar por cima.
De gente como ele, ando mantendo distância. Questão de sanidade. Ele pode estar sentado à minha direita, ou à esquerda, pouco importa! Estamos cercados de pessoas com muitas certezas e limitada capacidade de enxergar matizes na realidade. Ele não vê nem ouve. Brada!
Tenho medo dele, da polarização burra que defende em nome de sua ideologia, segundo a qual os fins justificam sempre os meios e vale tudo para fazer valer a força do grito mais alto. Seus princípios supostamente elevados demonstram uma enorme ingenuidade, e uma evidente falta de habilidade para a escuta.
Meu, o mundo não é uma partida de futebol! Não há apenas dois times em campo. Há a vida, e ela vai passando, complexa, tortuosa, driblando, repleta de nuances, e o cara faz questão de não ver para não se desestruturar, e cair no ringue. De punhos cerrados, ele desfere golpes, quase sempre no vazio, achando que vencerá. Às vezes consegue ferir, e também se machuca um tanto.
Tenho medo dele, da polarização burra que defende em nome de sua ideologia, segundo a qual os fins justificam sempre os meios e vale tudo para fazer valer a força do grito mais alto. Seus princípios supostamente elevados demonstram uma enorme ingenuidade, e uma evidente falta de habilidade para a escuta.
Esse cara já perdeu, sem se dar conta, nocauteado, pela cegueira das certezas.