Conversar pelas redes sociais ou por qualquer outro aplicativo que possibilite a troca de mensagens escritas, é uma faca de dois gumes. Há a vantagem de, em tempo real, termos a possibilidade de estabelecer contatos que, muitas vezes, não seriam possíveis de outra forma. Passar informações importantes, senão urgentes, dar sinais de vida, fazer breves mas significativas demonstrações de afeto, por meio de poucas palavras (ou dos simpáticos emojis). Mas também existe o outro lado.
Por prescindir do olho no olho, da modulação da voz, das pausas e respirações, que completam a comunicação presencial, lhe dando temperatura e transcendência, a troca de mensagens é um vasto terreno para interpretações equivocadas. Frases que saem dos dedos do emissor com um sentido e poderão ser lidas de maneira enviesada, porque estão, muitas vezes, descontextualizadas, sem o auxílio valioso de contornos emocionais e semânticos que podem afastar o que é dito daquilo que se pretendia dizer. E daí, quando o outro entende o que você não quis dizer, e responde com o que não gostaria de ter digitado em condições normais de temperatura e pressão, ferrou.
“Frases que saem dos dedos do emissor com um sentido e poderão ser lidas de maneira enviesada.”
Esses são efeitos colaterais de uma existência que, a essa altura, dificilmente poderá abrir mão dessas ferramentas. É assim e pronto. A não ser que se tome a decisão radical de não trocar mensagens, de evitar qualquer contato que não seja presencial, sair da rede. O que, a essa altura, seria quase como deixar de usar energia elétrica e virar um amish da Pensilvânia.
Tendo isso em mente, e sendo adepto e defensor da tecnologia, lamento que hoje estejamos também nos distanciando por conta dessa facilidade toda. Por falarmos quase todas as semanas, ou mesmo diariamente, com alguém, não quer dizer que estamos mais próximos. Perde-se, ao longo do tempo, a intimidade, que é algo que depende mais do compartilhamento de silêncios do que da troca feérica de palavras, que vão se empilhando nos chats, dissociando-se da essência do que, tenho quase certeza, apenas o convívio pode alimentar.