Asinceridade é um comportamento de risco. Trazer para o campo das palavras ditas, verbalizadas, o que se pensa ou sente, é uma forma de se expor, se desnudar. Pode custar caro, mas também ser libertador. Muitos, com certa razão, preferem o conforto do silêncio, das meias palavras, que apenas insinuam, sugerem, mas não dizem.
Quantas vezes você ensaiou uma conversa que nunca aconteceu? Organizou as ideias, escolheu substantivos, verbos e adjetivos, chegando até mesmo a se ouvir em voz alta, “colocando para fora”, para depois tudo guardar nas gavetas da prudência. O medo de não ser compreendido e, principalmente, das consequências dessas verdades tão íntimas, fragiliza, inibe. E a vulnerabilidade assusta.
Quantas vezes você ensaiou uma conversa que nunca aconteceu? Organizou as ideias, escolheu substantivos, verbos e adjetivos, chegando a até mesmo a se ouvir em voz alta, ‘colocando tudo para fora’, para depois tudo guardar nas gavetas da prudência.
Há hoje, por um lado, um certo excesso quando se trata de expressar opiniões sobre o que chamarei aqui de as coisas do mundo. Política, comportamento, relações entre gêneros, sexualidade, ideologias. Despeja-se tudo ao vento digital, em, talvez, uma busca por catarse, que se retroalimenta. Mas a verdade é que há, nesse intenso fluxo opinativo, muito pouca escuta, troca. Um paradoxo do nosso tempo.
Mas, voltando à sinceridade, aquela que exige confronto, mesmo quando envolve afetividades, a sensação é que cada vez temos menos audácia, ousadia. Tecem-se grande colchas mentais, sob as quais é mais fácil, seguro, se esconder e proteger. Nesse abrigo, como em um sonho, tudo é dito e exposto mentalmente, sussurrado, em um monólogo solitário, que arrisca nunca ser ouvido por ninguém. “Melhor deixar quieto”, diz a prudência.