Os nós se desatam. Às vezes nem é preciso fazer força. A vida faz o serviço. Porque ela é ladina, imprevisível, mutante. O vacilo é insistir, navegar contra a maré, quando a gente sabe, lá no fundo, que ela é mais forte. Isso não é alegre nem triste. Apenas é.
O movimento das ondas por vezes é imperceptível. Chega a incomodar porque tem-se a ilusão de que nada muda no horizonte. Essa certeza, no entanto, é lâmina que corta. De surpresa. E vai cauterizando para não deixar sangrar, e doer, por muito tempo: o mar borbulha, fervendo sob a certeza.
O apego a certezas sustenta quem precisa de credos. Alguns dos maiores pecados da humanidade foram cometidos em nome da fé nos nós perenes, que de tão apertados prometiam a eternidade. Há um quase inevitável fascismo na ideia do para sempre, do que se perpetua.
O apego a certezas sustenta quem precisa de credos. Alguns dos maiores pecados da humanidade foram cometidos em nome da fé nos nós perenes, que de tão apertados prometiam a eternidade.
Agarrar-se a ideologias, sem permitir espaço para a mudança, para a contradição ou mesmo o equívoco, é a manifestação suprema da ignorância. No sentido mais preciso do substantivo. É negar o saber, amordaçar-se, tapar os próprios ouvidos para apenas ouvir o que ressoa dentro da cabeça como eco do que já foi, e não existe mais. Desfez-se e permanece como espectro. Assombroso.
Os laços se desenlaçam porque o tempo, inclemente, pede novas configurações, e o mesmo já não é quando não muda. Apenas reverbera uma ideia que deixou de significar. E as ondas precisam varrer, levar para alto-mar e, talvez, ressignificar.