“Cara, se toca! O mundo não gira em torno de você!”
Quem nunca teve vontade de segurar no braço de alguém muito próximo e mandar essa letra. Sem dó nem piedade. Na lata! Mas daí vem a voz da razão, sempre contemporizadora, sensata até, e reduz esse ímpeto a níveis suportáveis e você adia o momento do confronto. E ele acaba nunca vindo. Porque, afinal de contas, vamos combinar, a gente mesmo às vezes precisa parar na frente do espelho e proferir essas exatas palavras. Em alto e bom som.
Vivemos tempos muito egocêntricos, quando não egoístas. Tá, a figura de quem estamos falando é super legal, cheia de (inegáveis) qualidades, sensível, coisa e tal, mas tem um sério desvio de conduta: interessa-se apenas pela própria vida. Nunca se dá ao trabalho, ou tem a coragem, de baixar a guarda de sua vaidade, às vezes muito bem disfarçada, para saber do que você está sentindo, ou vivendo. Não parece se interessar se você está feliz. Caralho!
‘Cara, se toca! O mundo não gira em torno de você!’ Quem nunca teve vontade de segurar no braço de alguém muito próximo e mandar essa letra. Sem dó nem piedade. Na lata!
E, no fundo, é isso mesmo. Alguns relaçionamentos são mesmo monológicos. Unilaterais. Em inevitável, e óbvio, desequilíbrio. Um fala e o outro ouve. Um sofre e o outro consola. Um pede e o outro atende, se desdobra. A relação é uma rua estreita, de uma mão apenas, sem possibilidade de retorno ou manobra. É isso ou, provavelmente, o silêncio, as reticências…
O desequilíbrio de afetos pode ser incontornável, a vida ensina antes de seguir seu rumo. Daí você aprende (será?) e toca em frente, com um bocado de tristeza no peito e a vontade de descer do carro e gritar, mais uma vez, só por desencargo de consciência: “Se toca, cara!”
Talvez só para ouvir o eco, como um conselho.