Retrato, enquanto substantivo masculino, é uma fotografia, uma imagem que reproduz algo ou alguém, imagem feita a partir de uma câmera; é uma expressão descritiva das características de alguém, de algo, de uma época ou coisa; imagem feita segundo informações de testemunhas.
Olhar para um retrato é uma forma de autoconhecimento, de busca por descobrir o pluralismo de nossa própria essência, as diversas camadas das quais somos compostos. E foi a partir deste processo que a cantora curitibana Babi Farah chegou às 11 faixas que compõe Quem Eu Sou Não Tem Retrato, seu primeiro álbum solo.
De voz expressiva, Babi movimenta-se com naturalidade por um vasto acervo lírico e de arranjos, procurando formas de hipnotizar o ouvinte sem que ele perceba. Em instantes, estamos admirando o mesmo retrato que a cantora através de suas composições, sejam solo ou em parceria com o guitarrista Rogério Sabatella, havendo espaço, ainda, para uma releitura de “Trovão”, bela canção de Estrela Leminski, Téo Ruiz e Paulo Leminski.
Criada em corais e nos microfones de bares espalhados pelo petit pavé curitibano, Babi Farah também fez parte do Grupo Fato, com quem gravou dois discos. Para seu debut, a cantora aprimora seu próprio estilo, trabalhando de forma coerente e equilibrada as faixas de Quem Eu Sou Não Tem Retrato, claramente um trabalho de várias mãos – participam do disco os músicos Denis Mariano, Fernando Lobo, Cassiano Zambonin, Luís Piazzetta e Du Gomide, que também assina a direção musical do disco, junto com o produtor Fred Teixeira, da Gramofone.
Ainda que haja um flerte muito forte com a MPB, Babi não resume sua musicalidade ao caminho embaçado desta determinação de gênero, recorrendo ao folk, ao samba, ao soul e ao pop.
Ainda que haja um flerte muito forte com a MPB, Babi não resume sua musicalidade ao caminho embaçado desta determinação de gênero, recorrendo ao folk, ao samba, ao soul e ao pop. A cantora faz um retrato bem íntimo, delicado e doce de si e do que vê, em que os contrastes ficam bem definidos, explorando em seus versos discussões sociais de caráter bem humano, fugindo de fórmulas e traquejos vocais exarcebados, mas aproveitando a vocalização para criar ambientações sonoras de plasticidade sentimental únicas.
Quem Eu Sou Não Tem Retrato é uma obra que se expande de forma grandiosa, iluminando com naturalidade os tímpanos dos ouvintes, puxando ele para dentro do álbum e o devolvendo ao mundo intensamente. E ainda que personagem central de sua obra (mesmo que depretensiosamente), Babi compartilha seus sentimentos num quase “exercício de empatia”, do qual dificilmente você não ressuscite modificado e à flor da pele.
A cantora lança seu disco em show no Teatro Paiol, dias 14 e 15, quinta e sexta, às 20h. Duplamente imperdível.