Rafael Morais, André Lauer e Gabriel Moraes estão unidos há quase sete anos. Neste período, além de bagagem que só a estrada oferece, adquiriram influências e o respeito na cena alternativa do norte do Paraná. Agora, finalmente, os fãs recebem com alegria o lançamento de seu primeiro álbum completo, Paó.
Por mais clichê que possa soar, é complicado encontrar outra frase para resumir a Rafael Morais Trio que não “um grupo que anda na contramão no cenário independente”. Ainda que os naipes de metais e o encontro com ritmos regionais brasileiros não seja uma novidade, a forma como o trio maringaense une as diferentes características e sonoridades, aliando porções fracionadas de dub e afrobeat com indie brasileiro – que por si só sempre teve como essência criativa a mistura, vide as diferenças bem visíveis entre Los Hermanos, Móveis Coloniais de Acaju e Pullovers, por exemplo –, denota uma capacidade ímpar de concatenar ideias e sons de modo requintado.
Talentosos na arte de amalgamar os gêneros sem cacofonias, a Rafael Morais Trio é capaz de agradar os fãs dos grupos anteriormente citados na mesma medida em que flerta com a proposta de brega moderno de expoentes da música brasileira, como Johnny Hooker, com o funk candomblé dos paulistas da Aláfia e o coco e maracatu da Orquestra Contemporânea de Olinda.
A banda de Maringá é mais um bom exemplo de como é possível trazer a riqueza da música regional brasileira a novos públicos através da mescla com ritmos considerados mais modernos.
Fruto dessa nova geração que escava e remexe as origens de nossa própria história musical, a banda de Maringá é mais um bom exemplo de como é possível trazer a riqueza da música regional brasileira a novos públicos através da mescla com ritmos considerados mais modernos. Neste sentido, Paó ecoa na trajetória de uma nova geração de músicos e fãs que estão redescobrindo as belezas do Brasil através da música.
Esse acréscimo da urgência da contemporaneidade na música, representada pelos arranjos e riffs mais diretos e, ao mesmo tempo, mais complexos, denota o intenso interesse e compromisso do grupo em prestar reverências sem que o tributo seja exclusividade. Por sinal, esse olhar para o “interior do país” não impede que a Rafael Morais Trio esqueça de retratar suas visões de mundo, incluindo uma verve poética que faz alusão aos tantos “Brasis” que se escondem nesta mesma regionalidade e interioridade proposta de forma musical por Rafael, André e Gabriel.
Sob este viés, faixas como “Mundo Cão” dão o tom de um disco que entende seu papel preponderante enquanto arte, de mostrar, falar e pensar o que significa ser morador dessa confusão chamada Brasil. Sem recorrer a lugares-comuns, Paó evoca o prazer de ser abraçado por notas sem perder o olhar crítico sobre o que os cerca, ao mesmo tempo que resgata o papel de flanêur do cancioneiro interiorano brasileiro. Nada mais moderno e rico que ser o que se é, inclusive na música.