Chega ao fim a temporada de estreia do espetáculo teatral OROBORO no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Idealizado pelos artistas Thais Dias e Jefferson Matias e dramaturgia de Tadeu Renato, a montagem reflete sobre os corpos dos povos originários afro-atlânticos.
As últimas apresentações acontecem de 18 a 21 de maio, de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. A entrada é gratuita, e nas apresentações de sextas e sábados haverá interpretação em Libras.
O termo “oroboro” remete ao símbolo da cobra que morde o próprio rabo, bem como à concepção de tempo circular ou cíclico das culturas africanas, como Bantu e Iorubá.
A peça une elementos das tragédias gregas com a realidade contemporânea, abordando os arquétipos dos orixás, o terreiro e a história dos povos afro-atlânticos, que, apartados de seu universo, foram obrigados a se moldar a uma sociedade eurocêntrica.
‘OROBORO’: a voz resgatada dos corpos silenciados
O espetáculo desperta o público para uma discussão profunda sobre identidade e ancestralidade.
OROBORO é uma criação inspiradora que transcende fronteiras culturais e temporais. Ao trazer à tona a questão dos corpos dos povos originários afro-atlânticos, o espetáculo desperta o público para uma discussão profunda sobre identidade e ancestralidade.
A peça aborda a experiência desses povos que foram separados de suas tradições, resultando em uma contínua remodelação dentro de padrões que os afastam cada vez mais de suas raízes afro-atlânticas.
A montagem promove uma mistura de cruzamentos culturais, trazendo à tona a noção da orixalidade nos corpos do cotidiano e proporcionando uma cena polifônica e anti-realista que busca explorar novas formas e conteúdos para a cena preta contemporânea.
“Buscamos trazer à cena um imaginário fora do senso comum em relação aos arquétipos dos Orixás”, explica o ator Felipe de Menezes, que encena OROBORO. “[Tentamos] viabilizar um espetáculo cheio de potência e um verdadeiro chamamento público para a exumação do que não foi dignamente enterrado”, sinaliza.
Narrativa
A história de OROBORO gira em torno da vida de Amara, que, após muitos anos de separação, reencontra seu irmão Akin, estabelecendo um vínculo que traz à tona acontecimentos do passado, como a loucura da mãe, a separação da família e os cuidados de seu tio Benin.
Nesse retorno conflituoso do que parecia esquecido, ela começa a compreender visões vindas de outro plano que a assombram, como um pedido do mundo dos mortos. “Assim como nas tragédias gregas, a peça lida com poderes diferentes/superiores”, comenta o dramaturgo Tadeu Renato. Na trama, Amara se vê mergulhada em questões da espiritualidade, levando o público à reflexão. “Há uma discussão sobre se enredar nos poderes do mundo espiritual, para o enfrentamento contra o esquecimento da história, ponderando os poderes do Capital sobre nossas subjetividades”, conta Tadeu.
Ancestralidade e musicalidade
A peça mescla a estrutura clássica da tragédia grega com elementos das culturas iorubás e bantos, utilizando-se da forma poética dos Orikis, que são poemas-orações desses povos. Constituintes de estrutura própria, imagética e sonora, eles se valem de características comuns ao samba, como a repetição.
Por esta razão, é fundamental para a construção da cena as canções originais escritas pelo dramaturgo junto a Fernando Alabê e Melvin Santhana, inseridas em OROBORO. Produzidas a partir de diferentes ritmos e utilizando instrumentos variados, a sonoridade se utiliza de um conceito de “modernidade preta atemporal”, comenta Alabê.
SERVIÇO | OROBORO
Onde: Centro Cultural São Paulo – CCSP (R. Vergueiro, 1000 – Paraíso | São Paulo/SP;
Quando: de 18 a 21 de maio, de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h;
Quanto: Gratuita.
Classificação: 16 anos.
Mais informações podem ser obtidas no site do CCSP.
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