A vida do jovem ator curitibano Gabriel Comicholi, 21 anos, passou por uma reviravolta no início de 2016. À época, ele morava no Rio de Janeiro e tinha planos de seguir carreira na Cidade Maravilhosa. “Minha primeira reação ao descobrir o HIV foi de surpresa. Não chorei, não me desesperei, apenas comecei a tomar conhecimento sobre minha nova condição”, comenta o artista em entrevista à coluna “Vale um Like”.
Apaixonado por artes desde a infância, ainda na adolescência Gabriel começou a fazer teatro e não parou mais. Em 2014, com outros amigos atores, decidiu tentar a sorte na capital fluminense. “Antes do resultado do exame, já tinha planos de deixar o Rio por conta de dificuldades financeiras e retornei a Curitiba para começar o tratamento perto da minha família”, fala.
Como forma de dar um novo rumo à sua vida e encarar de frente a realidade, Comicholi decidiu compartilhar esse momento e outras experiências no YouTube através do canal HDiário, que conta com cerca de 30 mil inscritos. “Foi meu principal amigo no período de descoberta. Três dias após descobrir o vírus, o canal já estava no ar, digo que ele foi meu psicólogo nesse processo. Sempre procuro entender a necessidade do momento para preparar os vídeos, escuto e leio muito o que meus seguidores têm de dúvida e procuro saná-las”, diz.
A história de Gabriel já o levou para participações em programas como o Altas Horas, da Rede Globo, e também virou curta-metragem: Horizonte de Eventos, de Gil Baroni, que participou da mostra competitiva do 24º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade e foi premiado no 4º Recifest – Festival da Diversidade Sexual e Gênero com o Prêmio Fepec, concedido pela Federação Pernambucana de Cineclubes.
Paralelamente ao seu canal no YouTube, ele já tem outros planos: “Pretendo voltar aos palcos o quanto antes, já estou me coçando para isso acontecer. Tenho muito interesse em cinema e em levar palestras sobre o assunto a várias comunidades”, completa.
Na mais recente edição do Festival de Curitiba, Gabriel movimentou as redes sociais da mostra e produziu conteúdos exclusivos. “Foi incrível! Sempre participei do Festival de Teatro de Curitiba como ator. Participar da cobertura do evento foi muito especial, passei a enxergar as coisas com outros olhos e pude ver que minha cidade natal tem um lugar muito especial dentro de mim”, reitera.
‘De todas as formas a cultura pode contribuir! É um dos principais meios de educação de uma comunidade, ela gera reflexão e isso é muito importante para a prevenção de qualquer problema’.
Mídia
No que diz respeito à sensibilização sobre as doenças sexualmente transmissíveis e o sexo seguro, Gabriel acredita que a cultura pode ser uma forte aliada para mudar as estatísticas. “De todas as formas a cultura pode contribuir! É um dos principais meios de educação de uma comunidade, ela gera reflexão e isso é muito importante para a prevenção de qualquer problema”, avalia.
Pela interatividade que mantém com seus seguidores, Gabriel Comicholi lembra que está mais do que na hora de uma mudança de postura na escola e nas próprias relações familiares. “Eu escuto muita gente dizendo: ‘Os jovens têm toda a informação sobre o assunto, se pegam HIV é porque querem!’. Esse discurso me deixa muito chateado, quantas campanhas nós vemos falando sobre o assunto? Quantos pais conversam com seus filhos sobre sexo? Quantas escolas levam educação sexual pra dentro da sala de aula? O problema está na raiz da sociedade, que acha que falar de sexo nas escolas é incentivo à promiscuidade e não educação”, enfatiza.