Entrou no metrô, não muito cheio, com o celular na mão. Um homem se aproximou.
– Passa o celular.
– Oi?
– Passa o celular.
– O número?
– O aparelho!
– Quê?
– É um assalto, porra.
– Mas nem fodendo!
As pessoas começaram a olhar assustadas.
– Eu vou falar só mais uma vez: passa o celular.
– E eu vou falar só mais uma vez: não passo.
– Eu tô armado.
– Então me mata, porque eu não quero viver 32 meses pagando as parcelas que faltam se eu não tiver mais o celular. Prefiro morrer, mesmo.
– Cê tá brincando com o perigo, dona.
– Querido, não tem ninguém brincando aqui. Eu não trabalho que nem uma filha da puta pra você levar uma coisa que é minha do nada, tô falando bem sério.
Alguns passageiros começaram a rir baixinho.
– Passa a merda do celular!
– Já ouviu dizer que “não é não”?
– Eu não vou falar de novo.
– Mas nem precisa, você já sabe a resposta.
Um moleque começou a filmar.
– Eu vou falar só mais uma vez: passa o celular.
– E eu vou falar só mais uma vez: não passo.
– Passa. O. Celular.
– Ai, olha lá, tão filmando.
– Dona…
– Você tá sendo ridículo. Vai sair naqueles blogs de humor como “o assaltante mongolão“, para!
Todos do vagão começaram a filmar também.
– Eu não vou sair daqui enquanto você não passar o celular.
– Mas você não tá com vergonha? Eu tô por você. Eu já falei que não vou passar, tá todo mundo de prova.
Começou a ficar vermelha.
– Passa.
– Pelo amor dos deuses, vão fazer meme seu, “mandei passar o celular, mas me passaram a perna”. Só vai embora!
– Não vou.
– Por favor!
As risadas aumentaram.
– Não.
– Moço, tó. Toma o celular, leva, é seu!
– É meu?
– Eu não tô aguentando de vergonha alheia, por favor, só vai embora. Sua vida vai acabar assim que esses vídeos forem pra internet, pelo menos você vai ter um celular novo. Fica de presente.
O assaltante arregalou os olhos, surpreso.
– Tá.
– Mas, olha: era mais fácil ter furtado, né?