Até onde se sabe, a palavra saudade existiria apenas em nosso idioma. O sentimento, tenho certeza, não foi inventado por nossos ancestrais lusitanos, de quem a herdamos. Mas coube a nossos primeiros colonizadores cunhar o substantivo que o denomina de forma tão bela, sonora, como se fosse um poema inteiro concentrado em sete letras.
Quero acreditar, mesmo sem ter qualquer prova concreta atestando minha teoria, que o sentimento pediu um nome porque Portugal é um país de navegadores. Partiam pelo mar sem fim, levando consigo, e deixando em terra firme, esse nó potencial que aos poucos se formava no peito de quem se percebia com o vazio da falta de alguém querido, que, de alguma forma, estava distante. Assim recriei sua história em meu reino de ficção.
A saudade é um tanto ambígua. Ao mesmo tempo em que dói, podendo confundir os sentidos, e embaralhar as ideias, é prova irrefutável da existência um sentimento profundo como o oceano, enraizado no primeiro olhar trocado por quem a sente. Não deixa, portanto, de também ser um privilégio senti-la.
A saudade é um tanto ambígua. Ao mesmo tempo em que dói, podendo confundir os sentidos, e embaralhar as ideias, é prova irrefutável da existência um sentimento profundo como o oceano, enraizado no primeiro olhar trocado por quem a sente. Não deixa, portanto, de também ser um privilégio senti-la.
Na linda letra de Vinicius de Moraes, emoldurada pela melodia de Tom Jobim na sublime “Chega de Saudade”, o “Poetinha” diz um basta. Está farto, e dela se queixa, como um menino contrariado: “É só tristeza e a melancolia / Que não sai de mim, não sai”. Dá um ultimato, e muda, em 1958, primeiro na voz de Elizeth Cardoso e depois na versão definitiva de João Gilberto, a história da música brasileira. E ajuda a fundar a bossa nova, uma linda forma de cantar em português que, como os descobridores lusitanos, também nos colocou no mapa do mundo.
Saudade é, portanto, como se fosse uma espécie de caravela que guardamos ancorada dentro do coração, como uma possibilidade sempre prestes a zarpar, e capaz de nos conduzir até mesmo a águas nunca antes navegadas, ensinando novas rotas, a redescobrir quem somos, nos lembrando do mais essencial.