Foram quatro anos longe do espaço inaugurado pela companhia em 2017. Formado por 11 contêineres marítimos, o Teatro de Contêiner Mungunzá ocupa, desde então, um antigo terreno abandonado no bairro da Luz, em São Paulo. Em meio a celebração de 15 anos de atividades, a Cia. Mungunzá de Teatro volta ao passado para encenar o espetáculo Poema Suspenso para uma Cidade em Queda, o mesmo com o qual deu o pontapé inicial do teatro que tornam a ocupar.
A peça, dirigida por Luis Fernando Marques, o Lubi, não era encenada desde 2019. No entanto, parece que não haveria forma de soar mais atual após os dois anos e meio de pandemia. Poema Suspenso para uma Cidade em Queda trata sobre a sensação de imobilidade que cerca as pessoas nos dias atuais. Encenada em quatro torres de andaimes de cinco metros de altura, a peça é baseada em histórias e experiências pessoais dos atores. De acordo com o elenco, a escolha da montagem tem relação direta com a afetação trazida pela pandemia.
No espetáculo, uma pessoa cai do topo de um prédio, porém não chega ao chão. Os anos passam sem que o corpo consume a queda. A partir disso, a vida das pessoas nos apartamentos que compõem esse edifício fica presa, como em uma espécie de buraco negro pessoal. Nele, cada personagem vive uma experiência que não é finalizada, preso em sua metáfora, ignorando o conjunto à sua volta.
Construção coletiva

Em cena, os atores ficam em um andaime com aproximadamente cinco metros, representando o prédio.
“Construímos o texto em conjunto, com base em histórias reais do elenco”, explica Verônica Gentilin, que além de compor o elenco assina a dramaturgia de Poema Suspenso para uma Cidade em Queda. Em cena, os atores ficam em um andaime com aproximadamente cinco metros, representando o prédio. Em cada apartamento, uma história diferente acontece, aparentemente sem ligação uma com a outra.
“Os atores não têm visão do todo e não sabem o que está acontecendo nos outros nichos”, conta Verônica. “Somente o público consegue enxergar toda essa situação de maneira integrada, como se observasse um prédio de longe ou estivesse montando um quebra-cabeça”.
O texto procura tratar da imobilidade que assola as pessoas nos dias de hoje, como afirma a dramaturga. “Estamos sempre prestes a mudar, a ter uma revolução, mas esse momento nunca chega”. As histórias trazidas no espetáculo tem como mote, justamente, essa imobilidade. “Retratam um pouco dessa realidade”, finaliza.
Cia. Mungunzá: uma companhia atípica

Luiz Fernando Marques, conhecido como Lubi, responde pela direção da montagem. Integrante do Grupo XIX de Teatro, Lubi afirma ter sido um provocador no processo de formatação da nova montagem. “A Mungunzá é uma companhia atípica, só de atores. Ouvi o que eles queriam contar com o projeto. Essa é uma das características da minha direção: focar nos atores e trabalhar em conjunto com eles”, explica.
Seu papel em Poema Suspenso para uma Cidade em Queda é fundamental para garantir unidade e organização no palco. “Esse espetáculo é de uma poesia enorme. Ao mesmo tempo que as histórias provocam estranhamento na plateia, as pessoas se identificam com aquilo que estão vendo em cena”, conta Lubi.
Com uma narrativa singular, Poema Suspenso para uma Cidade em Queda já teve oito temporadas entre São Paulo e Santo André. Espetáculo esteve entre os indicados ao Prêmio Aplauso Brasil, além de ter sido contemplado por editais como PROAC Circulação e Ocupação da Caixa Cultural.
SERVIÇO | Poema Suspenso para uma Cidade em Queda
Onde: Teatro de Contêiner Mungunzá (R. dos Gusmões, 43 – Luz | São Paulo/SP);
Quando: de 12 de maio a 5 de junho, de sextas, às 21h, sábados e domingos, às 19h, e segundas, às 20h;
Quanto: Gratuito (retirada de ingressos com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro);
Classificação: 14 anos.
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