O MASP inaugurou, no último dia 30 de junho, a exposição Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós. A mostra, que ocupa a galeria do 1º subsolo do museu, reúne 109 desenhos, monotipos e pinturas do artista visual yanomami Sheroanawe Hakihiiwe, originário da comunidade localizada no município de Alto Orinoco, na Amazônia venezuelana.
A exposição, com curadoria de André Mesquita e David Ribeiro, busca resgatar as tradições ancestrais, a memória oral e os saberes cosmológicos da comunidade yanomami.
A trajetória artística de Sheroanawe começou na década de 1990, após seu encontro com a artista mexicana Laura Anderson Barbata. Juntos, desenvolveram uma técnica de produção de papel utilizando fibras vegetais nativas, que o artista utiliza como suporte para seus desenhos.
A diversidade da comunidade yanomami

As obras de Hakihiiwe são marcadas por desenhos mínimos e delicados, com padrões e símbolos coloridos e texturizados, que exploram a relação intensa da comunidade yanomami com a paisagem amazônica. Sua arte é uma revisão contemporânea da cosmogonia e do imaginário yanomami.
O subtítulo da exposição, “Ihi hei komi thepe kamie yamaki”, foi uma sugestão do próprio artista para representar a diversidade de elementos que compõem sua comunidade e seu entorno. Com 109 obras, a exposição do MASP apresenta uma pequena parte desse universo, por meio de desenhos, pinturas e monotipos produzidos em papéis artesanais fabricados por Hakihiiwe.
Utilizando fibras nativas como cana, algodão, amoreira, banana e milho, o artista cria suportes com cores e texturas distintas, que contrastam com os papéis neutros produzidos industrialmente. Esses materiais artesanais lidam com o tempo em sua materialidade e conservação, preservando a autenticidade e o significado cultural das obras.
O universo simbólico de Hakihiiwe e sua relação com a natureza

A produção artística de Hakihiiwe está diretamente ligada ao seu universo simbólico e ao sentido de sua obra. O artista utiliza tintas vegetais fabricadas artesanalmente, extraídas de folhas, frutas, animais e madeiras, em diversos desenhos e pinturas.
Um exemplo é a monotipia intitulada “Jena riye riye” (Folha verde), em que Hakihiiwe representa cuidadosamente 24 folhas verdes, lembrando um tratado de botânica. Seu olhar minucioso revela a relação profunda que o artista estabelece com os elementos da natureza, mesmo em suas expressões mínimas.
A mostra de Sheroanawe Hakihiiwe no ano das Histórias indígenas, no MASP, busca apresentar ao público histórias de luta, sobrevivência e resistência, bem como a beleza, diversidade e criação presentes nas culturas indígenas.
A mostra de Sheroanawe Hakihiiwe no ano das Histórias indígenas, no MASP, busca apresentar ao público histórias de luta, sobrevivência e resistência, bem como a beleza, diversidade e criação presentes nas culturas indígenas. O reconhecimento dos direitos do povo yanomami, assegurados pela legislação venezuelana em 1999, destaca a importância da preservação de seus conhecimentos ancestrais e culturais.
No entanto, o artista relata que ainda existem ameaças reais e cotidianas enfrentadas pelos yanomamis, como a poluição do rio Orinoco e a destruição causada por não indígenas.
Programação anual do MASP dedicada às Histórias indígenas
A exposição Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós faz parte da programação anual do MASP dedicada às Histórias indígenas. Além da mostra de Hakihiiwe, o museu também apresenta exposições de outros artistas, como Carmézia Emiliano, MAHKU, Paul Gauguin e Melissa Cody.
O comodato MASP Landmann, em exposição desde o último dia 30 de junho, exibe cerâmicas e metais pré-colombianos, e a grande mostra coletiva Histórias indígenas, que reúne obras de diferentes povos originários, também compõem a programação do ano dedicada ao tema.
SERVIÇO | Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós
Onde: MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Av. Paulista, 1578 – Bela Vista | São Paulo/SP);
Quando: de 30 de junho a 29 de setembro; terça, das 10h às 20h; quarta a domingo, das 10h às 18h;
Quanto: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada).
Para mais informações, incluindo dias de acesso gratuito e agendamento on-line, acesse o site oficial do MASP.
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